sábado, 27 abril 2024
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Beyoncé cantando sertanejo? Entenda o que significa a nova ‘era country’ da cantora

Cantora anunciou ‘2º ato’ do projeto ‘Renaissance’. Novo trabalho deve celebrar raízes negras do country, depois de artistas acusados de racismo dominarem paradas dos EUA.

Depois de uma visita ao Brasil em 2023, Beyoncé decidiu cantar sertanejo.

Não que as duas coisas estejam exatamente relacionadas, mas o prenúncio de uma suposta era country da cantora abriu margem para todo tipo de piada incluindo a superestrela americana no gênero mais ouvido pelos brasileiros.

Entre memes com chapéu de boiadeira e a Festa do Peão de Barretos, o que é fato:

  • No último dia 11, Beyoncé anunciou nas redes sociais o “Act 2” do álbum “Renaissance”, que será lançado no dia 29 de março.
  • Duas faixas do novo trabalho foram divulgadas: “Texas Hold ‘Em” e “16 Carriages”, ambas com forte influência country, a música sertaneja dos Estados Unidos — por lá, ela também é uma das mais populares.
'Act 2', de Beyoncé, será lançado em 29 de março — Foto: Reprodução

‘Act 2’, de Beyoncé, será lançado em 29 de março — Foto: Reprodução

Por que ela escolheu o country?

O “Act 2” será o oitavo álbum de estúdio de Beyoncé. O “Renaissance” terá, ao todo, três partes. A primeira, lançada em julho de 2022, foi indicada na categoria Álbum do Ano do Grammy de 2023.

No primeiro ato, Beyoncé foi á pista de dança para reivindicar a origem negra do house, estilo de música eletrônica nascido no início dos anos 1980, numa cena underground feita por e para pessoas negras e LGBT+ de Chicago (EUA).

O resultado é um repertório festivo, que celebra a diversão como resistência. As referências vão do soul ao afrobeats e até uma influência de funk carioca aparece em “America Has a Problem”.

Beyoncé na estreia turnê de 'Renaissance' em Estocolmo, na Suécia — Foto: Reprodução/Instagram

Beyoncé na estreia turnê de ‘Renaissance’ em Estocolmo, na Suécia — Foto: Reprodução/Instagram

Detalhes sobre o “Act 2” ainda não foram revelados. Mas, seguindo o mesmo raciocínio, o álbum deve desmentir o mito do country como única música popular “branca” dos Estados Unidos.

Na década de 20 no Sul e no Sudoeste dos EUA, o country moderno nasceu do cruzamento entre instrumentos europeus (como o violino e a gaita) e o banjo africano. A influência do blues afro-americano também foi fundamental para a construção da sonoridade do estilo.

Ao longo do tempo, porém, a participação negra foi apagada da história do country. O próprio Velho Oeste americano, onde o estilo se consolidou, foi embranquecido por livros e filmes de faroeste, que excluíram do passado milhares de caubóis negros.

O vídeo em que Beyoncé anuncia o lançamento do disco faz referência a “Paris, Texas”, filme de 1984 dirigido por Wim Wenders, e às estações de rádio AM que propagaram o country pelos EUA nos anos 50.

Visualmente, a cantora também incorporou elementos da estética faroeste: na cerimônia do Grammy 2024, neste mês, ela apareceu usando um chapéu Stetson, um dos mais fortes símbolos do‎ Velho Oeste americano.

A exaltação de Beyoncé às raízes negras do country surge logo após um ano em que músicas do gênero, lançadas por artistas brancos acusados de racismo, dominaram as paradas americanas.

“Try That In A Small Town”, de Jason Aldean, é o caso mais emblemático. A música entrou para a lista das mais ouvidas logo após se tornar alvo de uma enxurrada de críticas raciais, em julho. O videoclipe da faixa, que foi editado e excluído do canal do YouTube da Country Music Television, trazia imagens reais do movimento Black Lives Matter e, ao mesmo tempo, cenas de bandidos em ação.

Beyoncé durante desfile da marca Luar, em Nova York, em 13 de fevereiro de 2024 na cidade de Nova York — Foto: Michael Loccisano/Getty Images North America/Getty Images via AFP

Beyoncé durante desfile da marca Luar, em Nova York, em 13 de fevereiro de 2024 na cidade de Nova York — Foto: Michael Loccisano/Getty Images North America/Getty Images via AFP

Como são as novas músicas?

“Texas Hold ‘Em”, primeiro single do “Act 2”, é um country dançante, que tem o banjo como estrela principal.

A música conta com a participação de Rhiannon Giddens, musicista americana de folk, conhecida por projetos que abrangem a história da música negra. Em 2023, ela ganhou o Prêmio Pulitzer ao participar da composição da ópera Omar, baseada no livro de memórias de um homem que foi escravizado nos Estados Unidos.

A musicista americana Rhiannon Giddens, que colabora com Beyoncé na música 'Texas Hold 'Em' — Foto: Creative Commons

A musicista americana Rhiannon Giddens, que colabora com Beyoncé na música ‘Texas Hold ‘Em’ — Foto: Creative Commons

Já “16 Carriages” é uma balada épica em que Beyoncé reflete sobre a própria carreira, desde a adolescência.

Pelo que já deu para ouvir até agora, o novo trabalho da cantora se mostra elegante, com conceito diferente de tudo que ela já fez, mas ainda com muito da identidade que Beyoncé construiu ao longo de quase três décadas de carreira.

Artista mais indicada da história do Grammy, ela nunca ganhou o cobiçado troféu de Álbum do Ano. A julgar pelas quatro vitórias de Taylor Swift na categoria, a premiação gosta de um artista com histórico country.

Por Carol Prado, g1

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